No enredo, Ana, a personagem
principal, é uma mulher que se sente frustrada no relacionamento com o marido.
No imaginário de Ana, seu marido não corresponde às expectativas por ela
criadas, e seu casamento se torna um fracasso. Aliás, sua vida se torna um
fracasso. Nesse contexto de conflitos e desilusões amorosas, a peça se
desenrola do início ao fim com apenas um casal de atores representando em cena.
A atriz interpreta Ana e o ator, evidentemente, faz o papel do marido. Porém, num
determinado momento, os dois entram em cena e de forma espetacular surpreendem
os espectadores.
É o momento em que se
integra à peça a personagem Marcinha, interpretada pela atriz que, até então,
era Ana e, na mesma tomada, o ator personifica Ana. Essa troca de papeis ao
mesmo tempo em que surpreende a platéia, demonstra a criatividade e talento
artístico dos atores e da direção da obra.
Neise Neves interpreta também Marcinha, amiga de Ana. Foto: Ronaldo Jannotti |
A personagem Marcinha, aos
olhos da sociedade uma mulher de comportamento exemplar, dialoga com Ana
relatando suas aventuras amorosas, que não são nada normais para os padrões
morais, tanto da própria Marcinha quanto de Ana. Entra em cena também, já em
outra tomada de cena, Gurgel, interpretado pelo ator da peça. Na verdade Gurgel
aparece na forma de fantasma, pois após um suposto caso com Ana ele se suicida
pulando pela janela do prédio. Detalhe: a aparição de Gurgel é cômica e provoca
risos na platéia. É um dos momentos em que se pode notar a utilização de
recursos cênicos e também, nesse momento, o artista se beneficia do tipo de
cenário, entrando por trás da platéia, causando uma reação bastante
interessante nos espectadores.
Dando continuidade às
encenações e já se encaminhando para a parte final, Ana põe em prática o plano
de vingança contra seu marido, torturando-o verbal e fisicamente, fazendo-o
sangrar até a morte.
Durante a maior parte da
trama Ana se lamenta, aponta erros, deficiências e mau comportamento do marido.
Faz parte de suas reclamações o envolvimento dele com Eliza, sua ex-amiga de
escola. Tanto ressentimento acumulado leva Ana a mergulhar-se em depressão
profunda e, como forma de extravasar, já que ela considera o marido o único
responsável por seu intenso sofrimento, ela planeja maquiavelicamente matá-lo,
mas, antes, ela faz questão de torturá-lo. O espectador pode ouvir com
facilidade o som de algo parecido com o sangue gotejando em uma poça desse
mesmo sangue já formada no chão.
Ao matar o marido, de uma
certa forma, Ana está matando também a si mesma, pois toda frustração que ela
sente é fruto também de suas próprias fraquezas.
Na trama Ana representa
muito bem o nome da obra. Uma menina séria, um ser humano comum com desejos
anseios e sonhos, mas que, diante da realidade desfavorável, pode reagir de
maneira imprevisível.
Messias Pereira Leite é graduando em História no Uni-BH. Texto apresentado à disciplina Leitura e Produção de Texto da Prof. Maria Aparecida Teodoro.
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