13 junho 2012

Resenha do espetáculo, por Messias Pereira Leite (Uni-BH)

Atrás dos olhos das Meninas Sérias, do romance Falar, escrito por Edmundo Novaes Gomes, é uma peça apresentada na forma de teatro de arena, espaço em que os espectadores ficam bem próximos dos atores, proporcionando assim uma forte interação entre personagens e público.

No enredo, Ana, a personagem principal, é uma mulher que se sente frustrada no relacionamento com o marido. No imaginário de Ana, seu marido não corresponde às expectativas por ela criadas, e seu casamento se torna um fracasso. Aliás, sua vida se torna um fracasso. Nesse contexto de conflitos e desilusões amorosas, a peça se desenrola do início ao fim com apenas um casal de atores representando em cena. A atriz interpreta Ana e o ator, evidentemente, faz o papel do marido. Porém, num determinado momento, os dois entram em cena e de forma espetacular surpreendem os espectadores.    
É o momento em que se integra à peça a personagem Marcinha, interpretada pela atriz que, até então, era Ana e, na mesma tomada, o ator personifica Ana. Essa troca de papeis ao mesmo tempo em que surpreende a platéia, demonstra a criatividade e talento artístico dos atores e da direção da obra.
Neise Neves interpreta também Marcinha, amiga de Ana. Foto: Ronaldo Jannotti

A personagem Marcinha, aos olhos da sociedade uma mulher de comportamento exemplar, dialoga com Ana relatando suas aventuras amorosas, que não são nada normais para os padrões morais, tanto da própria Marcinha quanto de Ana. Entra em cena também, já em outra tomada de cena, Gurgel, interpretado pelo ator da peça. Na verdade Gurgel aparece na forma de fantasma, pois após um suposto caso com Ana ele se suicida pulando pela janela do prédio. Detalhe: a aparição de Gurgel é cômica e provoca risos na platéia. É um dos momentos em que se pode notar a utilização de recursos cênicos e também, nesse momento, o artista se beneficia do tipo de cenário, entrando por trás da platéia, causando uma reação bastante interessante nos espectadores.

Dando continuidade às encenações e já se encaminhando para a parte final, Ana põe em prática o plano de vingança contra seu marido, torturando-o verbal e fisicamente, fazendo-o sangrar até a morte.

Durante a maior parte da trama Ana se lamenta, aponta erros, deficiências e mau comportamento do marido. Faz parte de suas reclamações o envolvimento dele com Eliza, sua ex-amiga de escola. Tanto ressentimento acumulado leva Ana a mergulhar-se em depressão profunda e, como forma de extravasar, já que ela considera o marido o único responsável por seu intenso sofrimento, ela planeja maquiavelicamente matá-lo, mas, antes, ela faz questão de torturá-lo. O espectador pode ouvir com facilidade o som de algo parecido com o sangue gotejando em uma poça desse mesmo sangue já formada no chão.

Ao matar o marido, de uma certa forma, Ana está matando também a si mesma, pois toda frustração que ela sente é fruto também de suas próprias fraquezas.

Na trama Ana representa muito bem o nome da obra. Uma menina séria, um ser humano comum com desejos anseios e sonhos, mas que, diante da realidade desfavorável, pode reagir de maneira imprevisível.

Messias Pereira Leite é graduando em História no Uni-BH. Texto apresentado à disciplina Leitura e Produção de Texto da Prof. Maria Aparecida Teodoro.

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