Tem hora que nos deparamos com um abismo enoooorme no meio do processo de criação. Uma cena encalhada. E daí surgem improvisos, tentativas, frustrações: uma sensação de impotência. Tentamos de tudo, "cegos" atirando pra todos os lados, pois em algum desses lados podia estar a resposta. E a pergunta-pulga atrás dos olhos, das orelhas, do coração e do cérebro desses (incluindo a mim) meninos e meninas sérios: como resolver a cena? Depois das inúmeras e díspares tentativas, o esvaziamento. Vamos embora. Não vai ser hoje.
E sempre tem um dia após o outro. No ensaio de 31 propus que passássemos o espetáculo até o ponto dito encalhado. Daí, direcionei meu olhar pra outras questões que não fossem meros erros de marca ou possíveis esquecimentos de texto. Queria reafirmar e revisitar o que tinha sido construído, prestando mais e mais atenção nas passagens de uma cena pra outra (esclareço: trata-se de um texto fragmentado que mistura passado e presente). Na passada, me deparei com um objeto cênico cujo destino no final da primeira cena ainda não tinha me convencido. Mas até então não tinha uma proposta boa pra solucionar esse objeto. E isso eu penso mesmo: se não tem uma solução, não adianta criticar e falar que não está bom. Juntou com uma narração que eu tinha proposto e que de uns ensaios pra cá parou de me convencer. Foi então que me ocorreram algumas idéias que resolveriam essas questões. Primeiramente, propus alterarmos a narração e o destino do objeto cênico.
Quando as mudanças foram levadas à cena por Neise e Léo, pra mim ficaram claras duas coisas: que elas eram muito relevantes e que delas surgiriam o destino da cena "encalhada": esta deveria ser seqüência daquela primeira. Por vários motivos: pela organização da cenas fragmentas e principalmente pelo que o texto demandava. E então pra mim soou tão óbvio que me irritou. Por que não tinha pensado nisso antes? Nem sei se é pra ser respondido. Intuição? Vários pensadores (artistas e diretores) do teatro já opuseram a intuição à técnica e a outras coisas. Tem gente que não acredita. Tenho medo de falar nisso porque parece que só se cria nos insights e isso não é verdade. Acredito e proponho trabalho, suor, experimento, exercício, massa cinzenta queimada. Mas nesses momentos é impossível ignorar essa mágica que envolve a criação, o trabalho do artista, que é a alma criativa. O caminho foi desobstruído e estou convencido de que podemos avançar rumo aos próximos desafios.
JUAREZ DIAS
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