São muitos os percalços enfrentados por aqueles que, por algum motivo, decidem fazer ARTE numa sociedade automatizada, individualista, pouco generosa e que se importa tanto com a arte quanto com um rato que atravessa a rua. Pessimismo? Mágoa? Nenhum desses. Escrever isso pra mim é ser muito "pé-no-chão". Então, se insistimos nisso, é porque devemos ter algum grau de loucura a mais do que as outras pessoas.
De certa forma, uma insanidade "branca" nos acompanha, fazendo com que transformemos tudo, de algum jeito, ao nosso favor: chutando pedras, vertendo suor, engolindo sapo, cuspindo marimbondo, vomitando sangue, desejando o impossível, almejando o inalcançável.
"Atrás dos olhos das meninas sérias", há muito tempo está no "quase", no "em breve", no "daqui um mês", "daqui uma semana", "daqui uns dias", para voltar, por algum motivo, em "ainda não vai ser agora", "talvez daqui uns dois meses" etc etc etc.
A luta é grande, a contramão é pesada. Chega a doer de cansaço. E, se me perguntarem, não consigo abrir minha boca, aliás minha boca não consegue movimentar seus músculos para dizer "Eu desisto". Não consegue. Ela até tenta, porque o coração cansado pede, clama. Mas é também nosso contraditório coração que nos chama a atenção para o "amor" com que fazemos nosso trabalho no teatro. APESAR DE TANTA COISA. APESAR DE.
Então, meus caros, quando estreiar (e provavelmente será em março, mas do jeito que as circunstâncias nos abraçaram até agora, tudo pode mudar de novo), esperamos ser (ingenuamente) recebidos de braços abertos, principalmente por aqueles que acompanharam essa trajetória de tantos APESARES.
Não me entandam mal, por favor. É que não é só a gente vive isso, porque vemos outras pessoas ao nosso redor também assim (do mesmo jeito que vemos outras em contextos bem favoráveis)... A intençaõ desse breve texto é traduzir, refletir, encorajar de novo para que o espetáculo "Atrás dos olhos..." que já deu sinais maravilhosos em alguns ensaios "abertos", possa finalmente florescer diante do público, sem murchar antes.
Daí que se vieram novos "Não isso", "Não aquilo", o peito ainda agüenta berrar novos "Sim!" "Sim!" "Sim!" "Sim!" quantas vezes forem necessárias. Nós queremos muito esse trabalho. Não pra gente, mas pra todas aquelas pessoas que, não sabem elas, estão ainda sendo privadas de vê-lo.
JUAREZ DIAS
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