02 abril 2007

A "morte" da Nê

Como foi dito no segundo post abaixo, na segunda semana cortamos a cena da Nê, que na história é a filha do caseiro da casa de praia da Ana. Então, segue aí o texto, em sua versão re-adaptada, e umas fotos pra ficar com a personagem na memória.

PS: Só registrar aqui, rapidim, a felicidade da temporada, do público, da peça, da equipe, tudo, tudo, tudo! E a saudade da temporada que tá batendo forte. Inté a próxima!

JUAREZ DIAS


CENA

ANA: A filhinha do Noca, o caseiro da casa de praia, se chamava Nê e era uma graça de pessoinha. Aquela carinha triste e alegre ao mesmo tempo. Quando estávamos no bar, sentava perto da gente e perguntava
NÊ: Quê que é ilso?, linguilça?, nunca comi dilso.
ANA: A Nê, uma mulatinha linda, a voz fininha fazendo cócegas nos escutados da gente. Um dia saí com ela e comprei-lhe um biquininho. Rosa e azul. A Nê ficou uma semana direto com ele, não tirava nem pra dormir. Marcinha é que gostava dela, fazendo tranças nos cabelos desmiolados e negros. O que é que você mais gosta, Nê?
NÊ: Eu gosto de gostar, ué.
ANA: O que é que você mais quer, Nê?
NÊ: Eu quero mais é querer, ué.
ANA: O que é que você mais faz, Nê?
NÊ: Ah, eu num faço nada não.
ANA: Dizem que os esquimós podem enxergar um mogolhão de brancos. Dizem que os computadores mais modernos podem decifrar milhões de cores exatas. Mas naquele dia que a gente estava vendo a enseada do alto da pedra grande, nós só vimos mesmo quando o Noca desceu com sua filhinha neguinha. O bibelô mulatim que devia ter seus nove aninhos. A gente fingindo ver a paisagem. Mas nós só vimos muito bem quando ele sentou atrás de uma pedra assim e tirou a calcinha da Nê. Depois, o Noca tirou o pau pra fora e foi ajeitando, a menina mexendo, o pinto entrando. O pinto do Noca entrando na bundinha da filhinha dele e a gente não podendo ver mais nada, a gente não podendo ver mais nada, a gente não podendo ver mais nada, a gente querendo ver tudo aquilo. O silêncio, meu bem, é algo triste como a chuvinha que começou a cair naquela hora. E nossos segredos são nossos. De mais ninguém, não é mesmo?

(Do original "Falar", de Edmundo de Novaes Gomes)

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo Ju!!!! Amei! Deus abençoe vcs!Sucesso!!! Feliz Páscoa!
Sua presença já faz falta na ASCON.
Tide

Nilmar Barcelos disse...

Eu queria que essa cena continuasse... edla é muito boa. rs